quinta-feira, janeiro 26, 2006

Eles é que se preocupam com essas coisas...


"Por isso eu digo a vocês: não se preocupem com a comida e
com a bebida de que precisam para viver nem com a roupa de
que precisam para se vestir. Afinal, a vida não é mais
importante do que a comida? E o corpo não é mais importante
do que as roupas? E nenhum de vocês pode encompridar
a sua vida, por mais que se preocupe com isso."
(Mateus 6.25 e 27)

Ouvi uma história uma vez em que um índio conversava com um branco e aquele perguntou a esse:
- Por que você corre o tempo todo e trabalha até ficar esgotado?
- Para assegurar-me de que, depois de minha partida, meus filhos terão onde morar e do que viver – respondeu o branco.
- Não procedemos assim – disse o índio – porque acreditamos que a mesma natureza que nos supriu em relação a essas necessidades também suprirá nossos filhos.
Há um trecho do sermão da montanha, no qual Jesus adverte aos seus seguidores que não se empenhem em acumular tesouros sobre a terra, porque aqui a traça e a ferrugem corroem e os ladrões roubam. Além disso – dizia ele – onde está o tesouro do ser humano aí, também, está o seu coração. Advertia ele, ainda, de que, quando os bens se tornam deuses sobre as pessoas, elas ficam com os seus corações divididos.
Ele bem que entendia que tal preocupação em ajuntar riquezas – como aquele branco esclareceu ao índio – é resultado da preocupação com o que se haverá de vestir, de comer e beber, com a preservação da saúde do corpo e com o alongar-se da vida.
Quando ouvi aquela pequena história do diálogo entre o branco e o índio, percebi sua sabedoria em entender que ajuntar tesouros onde esses são consumidos ou roubados é sinal de tolice. Tolice que advém da preocupação desesperada com a vida – mas tolice.
Sábio é perceber os limites de nossos poderes de controlar o que quer que seja. Não podemos garantir a preservação de nossos bens – nem os materiais, nem os relacionados com o nosso corpo, nem com o alongar-se da vida. Jesus mostrou que sábio é entender que Deus é quem veste a erva do campo, alimenta as aves que voam e muito mais faz por aqueles que crêem nele – os seus filhos.
Não nos inquietemos com tais pré – ocupações. Antes, ocupemo-nos em buscar, em primeiro lugar, o reino de nosso Pai e a sua justiça. Ele conhece nossas necessidades. Ser-nos-ão supridas por nosso zeloso Pai e Rei.
Estas preocupações são próprias daqueles que não entraram na relação de Pai e filho com Deus, na relação de servo do Rei Jesus. Eles é que se preocupam com essas coisas.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Sempre e nunca


"O fogo nunca se apagará no altar; deverá ficar sempre aceso."
(Levítico 6.13)

Esse é um texto bastante carregado de simbolismo, assim como todo o ritual de que fala o livro de Levítico. Tanto os aspectos concretos presentes nesse texto – fogo, altar – são tremendamente simbólicos, como também o são aqueles outros mais abstratos – o não apagar, o ficar aceso, o nunca, o sempre.

Não pretendo aprofundar a temática de que trata o livro. Apenas compartilho aquilo que é despertado em meu coração por todo esse simbolismo. E o que mais salta diante dos meus olhos está ligado ao aspecto abstrato do texto: o fato de que, no altar, o fogo estaria sempre aceso, nunca se apagaria. ‘Sempre’ e ‘nunca’.
O fogo no altar queimava as ofertas. As ofertas pelo pecado eram totalmente queimadas. E, ao queimá-las totalmente, o fogo se prolongava. Mas, ao final, só restavam cinzas. Cinzas que lembravam o arrependimento que moveu o coração do ofertante. Cinzas que lembravam o perdão concedido com base no sangue derramado, o qual, por sua vez, derramava paz no coração contrito.

Na verdade, não era o sangue do animal queimado em holocausto que quitava para com Deus a dívida do faltoso. Havia um outro – simbolizado por aquele –, sangue do Cordeiro que foi morto na eternidade, morto na história do homem. Esse, sim, era suficiente e necessário e válido: uma vida em lugar de outra vida - pleno perdão.

O fato do fogo nunca se apagar - mas ficar sempre aceso - faz a gente pensar no quanto o ser humano tem facilidade para errar.
Mas havia ofertas feitas em gratidão, adoração e que também contribuíam para o fogo manter-se aceso no altar. Essas outras ofertas eram queimadas apenas parcialmente.

Desse modo, o fogo que nunca se apaga faz a gente pensar na fraqueza e falibilidade humanas. Faz a gente pensar na necessidade e no benefício de uma postura de contrição contínua, de corações quebrantados, de arrependimento profundo e propiciador de recomeços. Faz a gente pensar na disposição de Deus em perdoar, na sua graça incomensurável.

Mas o fogo que nunca se apaga também faz a gente pensar numa postura de adoração, na gratidão como um estilo de vida, no reconhecimento da bondade e do cuidado de Deus como a força motriz e direcionadora de nossas ações e reações.
O fogo que sempre fica aceso faz a gente, ainda, pensar em perseverança, em constância, em longanimidade. Faz a gente pensar em ir ficando parecido com o nosso Pai, já que nele não há nem mesmo sombra de variação. Seus dons são irrevogáveis, suas promessas cumpridas cabalmente, sua palavra imutável, sua posição fiel e confiável.

O meu coração também é um altar e o fogo nele não pode nunca apagar. O fogo nele há de sempre arder.

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terça-feira, janeiro 03, 2006

Graça, superabundante graça

"A terra, SENHOR, está cheia da tua bondade".
(Salmo 119.64a)

Há uma discussão entre algumas culturas quanto ao ponto do calendário em que realmente se inicia o ano novo. Para mim, o ano novo começou mais cedo do que de costume. Era o dia 21 de dezembro, quando, em minhas leituras bíblicas deparei-me com um texto que trazia uma verdade, muitas vezes já lida por mim, porém ainda não apreendida. Não até aquele dia. O texto dizia "a terra, SENHOR, está cheia da tua bondade" (Salmo 119.64a).

A filosofia que sempre caracterizou a minha maneira de olhar para a vida, para o mundo, para o ser humano, nunca foi muito como a daqueles que procuram ver o lado bom de tudo. Nunca gostei muito de síndrome de Polyana, a menina da novela que leva seu nome que, esperando ganhar uma boneca de presente, mas que em lugar disto ganhou um par de muletas, começou a alegrar-se pelo fato de não precisar delas.

Quanto a mim, olhava para o mundo sempre lembrando a queda do ser humano no pecado, a maldição resultante não só sobre ele e sua descendência, mas também sobre toda a natureza. O fato de que as melhores experiências da vida, ter filhos e gerenciar a Terra, haveria de ser feito em meio a dores e abundante cansaço é que enchia os meus olhos.
Naquela noite das minhas referidas leituras, todavia, senti que Deus me fazia relembrar e entender, de toda minha alma, talvez, pela primeira vez, que onde o pecado abundou, superabundou a graça.

Não podendo acreditar nos insistentes pensamentos, equivocados segundo minha perspectiva, de que houvesse gente boa no mundo, gente que realmente buscava o bem de outrem, e de que pudesse haver, na humanidade, qualquer esperança para ela mesma, resolvi nunca esperar nem tentar achar nada de bom por aí. Porque de fato não iria encontrar.

O que ocorre é que, decorrente de meu realismo naturalista, fui perdendo o entendimento da graça de Deus que faz a sua bondade encher a terra, ainda que seja ela uma terra caída em pecado e guardada para tempos de juízo e condenação.

É como João testemunhou sobre a Luz, o Logos: as trevas não lhe podem resistir. O sábio Salomão já tinha escrito que a luz do amanhecer surge justamente quando mais alta vai a madrugada, quando mais escura é a noite.

O profeta Jeremias exerceu o seu ministério no momento mais difícil que um profeta poderia fazê-lo. A profecia que vinha de Deus para ele anunciar ao povo era de ameaça e destruição e ele levava esta mensagem a eles exatamente quando essa mesma profecia estava sendo cumprida. Ele aprendeu uma estratégia para si mesmo e ensinou aos seus leitores e muita gente a tem praticado: "trazer à memória aquilo que pode dar esperança".
Conquanto tenha sido um profeta que exerceu o seu ministério em meio ao pranto, tinha uma atitude positiva.

Faltava-me aprender tal lição. E não se aprende isso a não ser como uma dádiva da operação do Espírito de Deus. Não há lugar onde o pecado que desgraçou a humanidade isente-a da graça de Deus. Isso é absolutamente paradoxal.

O ser humano des – graça – do tem oportunidade de experimentar a graça abundante de Deus.